quinta-feira, janeiro 15, 2004

Manta de retalhos

Juntos para a construção de um projecto universal…Será proibido acreditar? Como se canta por aí: “…nada disto nos pertence…” Escrever, escrever…A confiança apazigua. Chamem-me utópica, idealista, alheada da realidade. Claro que todos precisamos incomensuravelmente de momentos a sós, antes de mais são essenciais, construtivos, ajudam a solidificar certezas. De que servem emoções e vivências se não são partilhadas? Apetece-me escrever…Será assim tão difícil alcançar a serenidade, a tranquilidade, a paz de alma? Eu sei, já percebi…há que valorizar a individualidade de ideias e opiniões, são antes de mais enriquecedoras. São saudáveis. Guardadas em segredo para quê? Dizer o que penso, o que não penso, imagino, sonho, brinco, rio, volto… Aparentemente ubiquitárias mas na realidade tão difíceis. Tal aconteceria, se envolvidas por um objectivo comum, as ideias fossem “apenas” divergentes e alguns pontos em comum pudessem ser encontrados ou, quiçá, por cedências de parte a parte se chegasse a algum tipo de consenso. Mas…ser forçado a isso? Incompreensível…não que seja obrigatório contar, comunicar, nada disso…acordo…Sei, acredito…não sei, duvido…São bens preciosos e tudo o que é precioso para ser valorizado precisa de estar no fim de uma árdua conquista. Mas não. As opiniões não são apenas divergentes, são antagónicas. Podemos querer estar sós mas é reconfortante…é bom…sabermos que estão lá aqueles sempre prontos ao carinho. Mas viver…a vida é feita de partilhas…leio, concordo, discordo, canto…É o preço, o esforço que garante a justa valorização. E ninguém está disposto a modificar uma virgula mesmo que só isso seja preciso para ficarmos mais próximos do bem global! Perdeu-se a ternura nos meandros inertes desta sociedade materialista? De tudo, por mais simples que seja…ouço, vejo, sinto…canso…Nada mais anseio. Intransigência, teimosia…Recuso-me a acreditar…Resta saber se os outros estão dispostos a acolhê-las. Durmo. Devem ser sem dúvida a expressão daquilo a que se chama felicidade mas que nunca ninguém concretiza. Mais perto de desistir, da apatia do que do ânimo que qualquer tipo de concretização exige. Será proibido acreditar? Vou. Decido. E é melhor que assim seja.